Pegadas na Areia

“Sonhei que estava caminhando na praia
juntamente com Deus.
E revi, espelhado no céu,
todos os dias da minha vida.
E em cada dia vivido,
apareciam na areia, duas pegadas :
as minhas e as d’Ele.
No entanto, de quando em quando,
vi que havia apenas as minhas pegadas,
e isso precisamente
nos dias mais difíceis da minha vida.

Então perguntei a Deus:
“Senhor, eu quis seguir-Te,
e Tu prometeste ficar sempre comigo.
Porque deixaste-me sozinho,
logo nos momentos mais difíceis?

Ao que Ele respondeu:
“Meu filho, Eu te amo e nunca te abandonei.
Os dias em que viste só um par de pegadas na areia
são precisamente aqueles
em que Eu te levei nos meus braços.”

Margaret Fishback Powers (fonte: https://www.pensador.com/autor/margaret_fishback_powers/)

Existe um espelho mágico que absorve e revela nosso maiores defeitos, nossas melhores qualidades, joga na nossa cara nossos medos, nos premia por nossos maiores esforços e, se formos sinceros, perdoa nossos erros.

Este espelho tem um nome: chama-se filho.

Quando meu filho começou a aprender a escrever, escreveu os mesmos garranchos que eu arrastei e fui perseguido na minha vida. Apesar do computador ter me salvo daqueles hieróglifos indecifráveis, um antigo filme começou a passar novamente em minha mente.

– Filho, você não pode escrever com esses garranchos. Tem que ter uma letra bonita. Não como seu pai.

Aquilo me incomodou. Como eu poderia cobrar dele que seguisse minhas palavras, mas não minhas atitudes…?

Pois o destino me premiou com um curso de caligrafia por correspondência. Era uma reportagem do jornal “O Estado de São Paulo” sobre profissões que não mudaram nos últimos 100 anos: alfaiate, consertador de máquina de escrever e… curso de caligrafia por correspondência. Era a terceira geração com a mesma metodologia.

Fiz o curso e minha letra melhorou. Aprendi até umas letras artísticas. Quando tenho tempo para caprichar, só recebo elogios. E fico todo orgulhoso.

Foi graças ao meu filho que melhorei…

Tenho dito que nossos filhos são como tubarõezinhos, que não nos deixam sossegados: querem entrar na piscina ou no mar gelados; se você não acordar cedo e levá-los para uma atividade lúdica, ficam no celular e no videogame; e estão sempre fazendo perguntas difíceis e constrangedoras (esteja preparado, elas sempre virão quando estiver desprevenido).

Talvez você tenha abandonado sua filha ou seu filho ou trocado-os pelo seu trabalho, seu sonho, seus medos… 

Nesse caso, espero que não seja muito tarde para você reatar laços com ele ou com ela.

Não será fácil, nem rápido. E talvez não dê certo. Eles vão te condenar, te xingar, te testar. E vão achar seu ponto fraco. Porque eles são você. Seu DNA, seu cromossomo, seu sangue…

Se conselho fosse bom, ninguém dava, mas vou dar um palpite: não dê uma de super-herói com seus filhos. Nenhuma máscara ou mentira se sustenta para sempre. Faça o contrário: mostre seu lado humano, suas dores, seus medos, sua sombra. Mas eles só aceitarão você de volta, com tantos defeitos, se você tiver compromisso com eles e se mostrar que estará ao lado deles quando eles precisam. É uma via de duas mãos, entende? Tudo que vai, volta. Você terá que abrir mão de algumas coisas para estar com eles. E vice-versa. Não se pode querer tudo, sabe? Você tem que abrir mão de algo, se quiser outra coisa. É o que se chama “ditadura da escolha”. Escolha bem e aceite sua decisão respondendo pelas consequências de cabeça erguida. Acho que isso é o que se chama caráter, integridade.

Na pior das hipóteses, você terá uma história para contar. Triste, mas será a sua história.

Agora, se você conseguir passar momentos mágicos com seus filhos, não apenas você terá histórias maravilhosas para contar, como também eles terão. E as contarão para os filhos e netos deles.

Isso se chama fantasia e faz muito bem para a alma, de todas as idades.

E se você tiver a oportunidade de contar uma história, um conto de fadas, um conto de tradição oral, espero que você tenha uma história que te encanta na ponta da língua. Daquele seu joelho ralado, daquela aventura que você teve com sua turma. Ou de bruxas, magos, mestres, heróis e princesas.

As suas histórias, só você as conhece.

Mas de bruxas, magos, mestre, heróis e princesas, existe um universo infinito de histórias que eu adoro contar e ouvir e que muita gente conhece, conta e escreve.

Quem sabe não nos encontramos para um sarau de histórias.

Se precisar, carregue seus filhos nos braços de vez em quando. Isso cura a alma. A sua e as deles…

Até breve!

Max