
“- Não, de maneira alguma, vocês dormem em casa.”
Estavam a bordo do Vistamar, um barco de pesca, e Marsala tinha trocado duas frases com aquela senhora. Apenas perguntara se ela era da ilha. Ela respondeu que sim e perguntou onde o casalzinho ia dormir.
“- Na pousada não. A dona bebe. Vocês ficam em casa.”
Karl e Marsala ficaram encantados com a hospitalidade do povo ilhéu. Dona Letícia ofereceu hospedagem e um delicioso jantar. Na verdade, a hospitalidade de Dona Letícia surpreenderia novamente pois ela cederia seu próprio quarto aos visitantes para dormir na sala.
Seu filho, Carlos, era da marinha e cuidou de entreter os visitantes durante toda a viagem de duas horas entre o continente e a ilha.
A carona foi conseguida graças à ajuda de outro barqueiro, Gustave, que percorria todas as praias da ilha levando e buscando as crianças para a escola. Os donos dos barcos de pesca sempre levavam a comunidade para o continente, e vice-versa, porque todos eram amigos e parentes, de modo que aqueles que se furtavam à esta gentileza sofriam amarguradas críticas.
Foi a sorte de Karl e Marsala, pois quando chegaram ao cais, às 4 da tarde, não havia barqueiros interessados em levar apenas dois turistas para a praia do Selvagem. Mas, como era lua cheia, todos os ilhéus tinham feito suas compras do mês e estavam trazendo os mantimentos para a ilha. Assim, diversos barcos fariam a rota no final do dia de compras.
O primeiro barco que saiu tinha tanta gente e mantimentos que Karl e Marsala ficaram constrangidos de subir a bordo. Então, enquanto esperavam outro barco sair, Karl sacou suas frutas exóticas da bolsa e começou a oferecê-las a Gustave e seus amigos como forma de retribuição pela ajuda dele, completamente descompromissada.
As frutas tinham saído caro. Estavam no mercado municipal da capital, no começo do dia, quando foram abordados por um vendedor que começou a oferecer fatias das frutas mais coloridas, esquisitas e doces que já tinham visto. Vinham da Colômbia, do Peru, da Argentina, da França, da Califórnia, eram roxas, brancas, amarelas e vermelhas, e todas doces, muito doces. Até um tal de mangostim, que o vendedor disse ser a preferida da Rainha da Inglaterra. Depois da quarta ou quinta fatia, Karl perdeu o juízo e pediu para embrulhar que levaria todas. Mas no momento de pagar a conta, começou a devolver quase tudo de tão caro que tinha ficado. O vendedor começou a choramingar pelo seu emprego, deu alguns descontos e Karl acabou levando uma parte dos embrulhos.
“- Chama-se Pixar Moscatel” – Karl explicava para Gustave e seus amigos, ao oferecer uma uva tão grande quanto morangos. “- Não tem semente? Eu queria plantar.” – Gustav comentava.
Quando subiram a bordo do Vistamar, o barco que os levaria para a praia do Abricot, a meio caminho da praia do Selvagem, Karl ofereceu as últimas uvas do cacho aos tripulantes e ajudou os demais passageiros a subirem a bordo com seus mantimentos.
A viagem foi ao por do sol e, depois que escureceu, a lua cheia aparecia linda de vez em quando entre as nuvens do céu nublado. As luzes da cidade foram ficando cada vez mais longe e o balanço e a tranquilidade do mar só eram rompidos pelo barulho do motor a diesel.
O capitão ia dormir na praia do Abricot mas ofereceu à dupla de turistas uma carona no dia seguinte, no mesmo barco, às 7 da manhã. Seria o melhor horário, pois encontrariam o pequeno John e a sapeca Torolai indo para a escola e, com eles, conseguiriam a quarta parte do ídolo que os levariam ao tesouro que procuravam…
Por Maximilian Köberle
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