
Mala pronta, chovendo às cântaras. Cancela o circular e chama o Uber. Cleyton faz serviço de pintura. 300 reais para fazer o portão mais um galãozinho de tinta e água raz. Pego o cartão dele e desço na rodoviária. “- Que horário você quer? O próximo está lotado. Pode ir por São Paulo e pegar outro ônibus lá.” Mudo de guichê. Entro pelo fim da fila. Um sujeito entra pelo começo. “- Espertalhão”, pensei. “- Jovem, aquilo é seu?”, ele chama a atenção do rapaz que acaba de sair do guichê e deixa a agenda para trás. “- Retiro o que disse, ele tem uma alma boa.”. No guichê ao lado, escuto: “- uma passagem para BH.” Olho e vejo uma garota com a mão fuçando dentro da mala tiracolo vermelha. “- Talvez estudante voltando para casa? Ou a sagrada visita periódica à mãe.”, penso com meus botões. “-9 e 30, plataforma 26 ou 27.”, diz a atendente me entregando três cupons grampeados. Agradeço e olho para o relógio: o ônibus sai em 30 minutos, dá tempo de um lanche. Caminho entre famílias inteiras, pessoas simples, com carrinhos cheios de malas. Crianças distraídas, idosos passivo, homens com o rostos marcados, mulheres preocupadas. Duas funcionárias ajudam idosos com o leitor do QR code. Duas filas se formam diante delas. Tento na catraca vazia entre as duas. Está desligada. Tento do outro lado. Luzinha acesa. Esfrego a figurinha quadriculada da passagem e nada acontece. Começa a fazer fila atrás de mim. “- É aqui.” Uma moça tenta ajudar apontando noutro lugar com outra luzinha. “- Outra pessoa com alma boa”, penso. Tento no lugar que ela apontou. Nada. A funcionária estica o braço em minha direção sem dizer palavra. Entrego a passagem, ela folheia os cupons até o terceiro papelzinho e me devolve já pegando outra passagem com a outra mão para ajudar outra pessoa. Passo a nova figurinha no leitor e ascende uma flechinha verdade noutro visor. Apresso-me em passar antes que a flechinha apague. Agradeço e desço as escadas rolantes. Procuro a plataforma 26/27 e a encontro bem no meio da área de embarque. Caminho até o fim do espaço até uma lanchonete arrumadinha “- Tem cardápio?”. “- Não, só tem o que cê tá vendo … e não tá passando cartão.” Fico intimidado. Analiso os salgados pelo vidro. Um aviso diz: “para consumo imediato”. O folheado parece ser massa pura. Olho para um lanche magrinho mas desanimo ao ver a descrição: “lanche congelado”. Desisto e me sento em frente à plataforma 27. Aproveito para pagar as contas pelo celular. Fim do 1º Ato.
Por Maximilian Köberle
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